Monday, January 2, 2012

O Panic fala a linguagem de Deus.

Quando chove, ele fica doido com a chuva. Desata a correr pela calçada, pela relva, abana-se todo como só os cães peludos se sabem abanar, e depois senta-se sossegadamente a ver a chuva cair. Quando já não há pingos ele passeia-se por todo o lado, e esfrega-se furiosamente na relva, como eu querendo fazer parte daquele cheiro inebriante que fica, a terra e erva molhada.

Quando troveja ele não tem medo – não se esconde nem foge. Simplesmente vem para junto de mim e deita-se, como que a dizer «havemos de ultrapassar isto juntos».

Quando faz sol, e calor, ele alterna entre a exposição ao sol e a sombra mais fresca. Às vezes faz como todos os cães gostam de fazer – um buraco na terra, para encontrar uma zona mais fresca e húmida, e deita-se lá para usufruir do calor e do fresco.

Quando encontra uma pessoa qualquer tem sempre de travar conhecimento, embora algumas não achem piada nenhuma a uma medalha daquelas patas nas calças brancas… Adora crianças, e brinca com elas, desafiando-as. Respeita os velhos de uma maneira curiosa, pondo o focinho no colo deles, como se percebesse que eles já não estão dispostos a correrias e arremessos.

Quando alguém está triste ou doente, não arreda pé. Deita-se no chão, a olhar para nós, como que a vigiar a situação clínica, e por vezes chora baixinho. Quando alguém está feliz ele sabe e solidariza-se, saltando e ladrando com entusiasmo.

Quando acha que eu já estou a trabalhar há demasiado tempo, desafia-me e geralmente consegue que eu interrompa por um bocado; quando acha que eu devo dormir anuncia-me o caminho do quarto; quando acha que eu já dormi se mais salta-me em cima e morde-me os pulsos, puxando por mim.

O Panic fala a linguagem de Deus.

É a linguagem da Natureza, é a linguagem da relação com os outros. É a linguagem do respeito por todos e por cada um, é a linguagem da vida no seu pleno. E eu, será que a falo? Será que ao menos a entendo?...